SQUATTERS, CCC-RJ 2021
A mostra Squatters apresenta um conjunto de meta-trabalhos, elaborados pelo entrelaçamento de obras realizadas entre 2010 e 2020. Por um lado, evidencia-se o cruzamento entre arte e ciência que perpassa tanto a poética de Ilca Barcellos quanto sua própria trajetória de artista e bióloga. Por outro, ao recombinar e transmutar fragmentos e representações de obras realizadas em diferentes momentos, somam-se à tessitura entre arte e ciência os fios do tempo; a perspectiva diacrônica torna-se uma urdidura sincrônica. Estas hibridações entre arte e natureza, entre o estático e o mutável, entre controle e acaso e entre temporalidades variáveis constituem o cerne da instalação e das 10 colagens digitais que compõem esta mostra.
A instalação Squatters, que dá nome à mostra, ressignifica a exposição Squatting – realizada em 2011 no Museu Histórico de Santa Catarina (MHSC). Naquela ocasião, tratava-se de evocar os squats artísticos para referir-se ao ato de romper com o espaço expositivo tradicional e ocupar o espaço do jardim do MHSC. Explorava-se o conceito de mimese; seres fictícios (esculturas cerâmicas) ocupavam o jardim do museu e estabeleciam, por meio da proximidade de cores, formas e texturas, novas possibilidades de leituras. Na mostra realizada agora do CCC/RJ se dá a inversão da relação entre espaço expositivo e natureza: é o ambiente natural —constituído por espécies herbáceas e tubérculos em diversos estágios de brotamento — que ocupa o espaço museológico, constituindo com as esculturas uma teia, uma obra viva e mutável. Novamente, estabelece-se a dialética instável entre natureza e arte, entre o ambiente natural e o espaço expositivo.
Por meio das colagens digitais nomeadas Crossing-over, amalgamam-se fragmentos de desenhos realizados em 2019 e de esculturas cerâmicas fotografadas em sua montagem na supracitada exposição Squatting. Ao utilizar estes registros fotográficos e desenhos como suporte para elaboração de novos trabalhos, Ilca Barcellos coloca em questão as relações entre o bi e tridimensional, entre o dentro e o fora, entre a obra e sua representação; revela tanto o acaso na natureza e como na criação artística. Estes trabalhos recriam uma paisagem onírica em que se entrelaçam camadas de linguagens distintas; perde-se a noção da perspectiva bem como as referências do que é representação e do que é obra.
Gisela B. de Souza
Profa. Dra. da Escola de Arquitetura da UFMG